terça-feira, 2 de junho de 2009

ANESTESIADOS COSTUMAM ACORDAR SEM DOR: UM NOVO LEGADO DA POLÍTICA BRASILEIRA
Diana Magalhães de Oliveira
Profa. da Universidade Estadual do Ceara - diana.magalhaes@uece.br


A anestesia é um dos procedimentos clássicos da Medicina e visa cessar a sensibilidade à dor para permitir manipulações e intervenções no paciente. Isto, obviamente, é um beneficio inegável e que todos reconhecem como essencial à vida moderna. Mas, o que dizer da “anestesia” que parece nos tomar a todos no Brasil quando presenciamos tantas evidências de corrupção e de cinismo na política, no governo, na justiça e na maioria das instituições (públicas e privadas) do país? Como permanecer impassível diante do anúncio (Revista Veja) de acusações tão graves, constrangedoras e verossímeis feitas pelo senador Jarbas Vasconcelos a respeito de seu partido, o PMDB, e da relação cobiçosa deste com o Governo Lula?

Ninguém duvida da plausibilidade das acusações nem tampouco das implicações que elas traduzem no diagnóstico bastante comprometedor da nossa saúde política! Ainda assim estamos todos literalmente anestesiados! Acostumamo-nos a viver no país de tantos escândalos e falcatruas envolvendo ora dinheiro ora poder ora ambos que já não nos indignamos com quase nada nesta esfera. Tudo é perfeitamente desculpável e explicável: basta um superior imediato dizer que não sabia do ocorrido e exonerar o subordinado flagrado em delito que tudo se resolve. As denúncias caem no vazio absolutista da “governabilidade”, onde qualquer crime/delito, por mais hediondo e inadmissível que seja, é entendido como um mero “erro” cometido na ânsia “aloprada” de acertar! Os absurdos se acumulam; a lista de irregularidades cometidas abertamente pelos governos (federal, estaduais e municipais no Brasil) atinge o ápice quando um senador da República vem a público revelar detalhes sórdidos da “dinâmica da política brasileira” e nada é apurado. Aliás, nada pode ser apurado de verdade no Brasil de hoje porque todos sabemos onde estão os maiores culpados e mentores da corrupção generalizada: no congresso nacional e no planalto da alvorada. O PT de Lula conseguiu a proeza ou façanha paradoxal de eliminar a oposição ao subornar todos os envolvidos. Digo façanha porque antes do PT assumir o governo federal tal paradoxo era impensável, já que a oposição existia e não permitia subornos, os quais, se descobertos, eram amplamente alardeados pelos próprios petistas que não se conformavam até que os culpados fossem punidos ou pelo menos execrados pela opinião pública. Hoje assistimos ao espetáculo esdrúxulo de contar com uma matilha de corruptos liderando no legislativo com o papel de vigiar seus pares, tão corruptos quanto, no executivo, os quais são regulados todos por outra súcia de corruptos que reina no judiciário. Todos interligados e todos comprometidos até os ossos com a corrupção que eles mesmos criaram e não sabem como se desvencilhar! São milhares de interesses e trocas de favores, uns mais escusos que outros, que culminam minando o campo político brasileiro de sorte tal que qualquer investigação acabaria incriminando A ou B que tem ligações com C e D, os quais certamente envolveriam E ou F que são autoridades “imexíveis” (sic) no quadro da governabilidade brasileira.

Podemos inclusive afirmar que ainda pior que não se apurar nada após uma denúncia é nem sequer se indignar com a eventualidade dela ser factível. Isto é o que ocorre atual- e solenemente no Brasil: ninguém dá a menor importância para as denúncias porque, independentemente delas serem verdadeiras, já se sabe que quase nada pode ser feito; os acusados ficarão impunes mais cedo ou mais tarde, de acordo com o grau de influência de que disponham no “esquema da governabilidade”. Daí que, para os simples mortais, é melhor mesmo estar anestesiados do que encarar essa realidade dolorosa! E assim, voltamos para a questão da anestesia que nos assola e nos consola.

Que situação delicada a nossa, não? Um pais tão rico, tão grande, tão repleto de um povo tão alegre e de todas as condições (ambientais, climáticas) para ser uma potência mundial, mas que vive tomado de corruptos e cínicos de tantas estirpes quanto a malícia humana é capaz de engendrar... Até quando o Brasil vai resistir aos “saques” destes “saqueadores” que nós mesmos, anestesiados ou não, elegemos para nos arruinar? Será que quando acordarmos o Brasil ainda vai estar de pé ou já vai haver caído como as nossas florestas caem diante dos nossos (anestesiados) e dos olhos (atentos) do resto do mundo?

Dúvida cruel para quem observa e segue indignando-se, mas anestesiados... Dúvida aliviada para os políticos, governantes e autoridades, que seguem ganhando rios de dinheiro para continuar favorecendo e retroalimentando os mesmos grupos de corruptos que os mantém no poder. Indubitavelmente este é um novo legado da política brasileira: anestesiando (seu caráter e seu povo) e se mantendo no poder! De certo, só mais uma coisa: os brasileiros estamos anestesiados sim, porém não mortos! Quem sabe num belo dia ensolarado nós não acordamos do nosso “deitado eternamente em berço esplendido” e saímos à luta? Nem toda dor precisa ou deve ser evitada: algumas até nos fortalecem. Viva a dor e abaixo a anestesia que nos impede de expressar nossa indignação com tanta farra de corrupção!

Updates em 2009

Esta é minha primeira mensagem em 2009 para dar uma atualizada no blog. A maior novidade em 2009 será o lançamento do nosso livro "Almanaque de Bioinformática Elementar", uma publicação para preencher uma lacuna na iniciação de estudantes das áreas biomédicas e biológicas em Bioinformática.